O senhor é meu pastor e nada me faltará...


anjos - Recados Para Orkut


"Educar com amor".

"Educar com amor".

Um cantinho especial para uma boa e agradável conversa!!!

terça-feira, 21 de junho de 2011

"A CRIANÇA FALANDO DOS LIMITES".


Quando fui gerado, cresci numa bolsa, dentro de minha mãe. Nós dois construímos um cordão que nos ligava. Eu não percebia que este espaço era tão pequeno; tinha a impressão, no início, de que o universo era só meu.

Conforme fui crescendo, fui sentindo os limites. Quando me mexia, minha mãe logo percebia. A minha vontade era a de tomar conta de todo o seu corpo, mas eu não podia porque eu não era ela; eu era um ser distinto, para o qual foi reservado somente aquela bolsa.

Quando nasci, este espaço aumentou. Confesso que me senti um pouco perdido e comecei a chorar. Embora eu tivesse muito mais que uma bolsa para estar, surgiu o primeiro grande limite deste espação: eu teria de, naquele minuto, aprender a respirar. Por isto chorei. Chorando, meus pulmões começavam a aprender como teriam que fazer para deixar o ar entrar. Minha mãe agora não respirava mais por mim. Que saudade daquela bolsa!

Esta saudade não durou muito, pois logo o espação passou a ser delimitado. Puseram-me no colo, num berço, dentro de roupas, e comecei a me sentir mais seguro.

Dali a pouco, percebi que minha mãe não se alimentava mais por nós dois, e novamente coloquei o “chorador” para funcionar, pois o meu corpo me avisava que eu precisava me virar. A partir daí vieram os horários, e eu comecei a aprender que nem tudo é como a gente quer, na hora que se quer e na quantidade que se quer.

Fui crescendo, mesmo com todos estes limites, e continuei achando que o espaço grande e eu éramos a mesma coisa. Então, fui aprendendo a resistir às limitações que a vida começava a me ensinar: não queria comer na hora de comer; queria comer somente os doces; não queria tomar banho; não deixava cortarem minhas unhas; queria o brinquedo maior, mais colorido e, se desse, um monte deste brinquedo de uma só vez.

Tinha a sensação de que eu controlava tudo. Meus pais, no entanto, não deixavam o controle na minha mão. Isto deu um certo alívio. Conheço um amiguinho que ficava com o controle e sofria muito, pois seu espação foi ficando cada vez maior, e ele tinha tudo o que queria, mas tinha um baita medo de, tão pequenininho, não dar conta daquela imensidão.

Eu chorava quando os meus pais me ensinavam mas, como lá no meu bercinho, o choro me ajudava a entender mais um pouquinho desta vida.

Créditos:Laura Monte Serrat Barbosa


Texto publicado no Boletim da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Seção Curitiba, abril/maio 2000, e no livro A Psicopedagogia no âmbito da instituição escolar, da autora, em 2001.
Pedagoga, psicopedagoga, especialista em Psicologia Escolar e da Aprendizagem, mestra em Educação.

Fonte:http://www.monteserrataprendizagem.com.br

Um comentário:

Eleusa Franco disse...

Simplismente este texto é tocante...é lindoo!!! Nossa trajetória começa na barriga da mamãe
tudo ali era tão fácil...mas um dia temos que caminhar por nossas próprias pernas...ah..isto é doloroso demais!!! Mas só assim aprendemos que o mundo não gira em torno de nós , existe o outro!!