
"Educar com amor".

Um cantinho especial para uma boa e agradável conversa!!!
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Nóis mudemo.
Dia dos professores chegando,esse texto cai como uma luva, para pararmos e refletirmos a nossa prática, enquanto educares. Excelente texto. Boa leitura.
As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase um rapaz.
- Por que você faltou esses dias todos?
- Fessora É que nóis mudemo onti,. Nóis veio da fazenda.
Risadinhas da turma
- Não se diz "nóis mudemo", menino! A gente DEVE dizer: "nós mudamos", tá?
-Tá, fessora!
No recreio, as chacotas dos colegas: "Oi, mudemo nóis!" "Até amanhã, nóis mudemo!" No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações.
- Pai, não vô mais pra escola!
- Oxente! Modi quê?
Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse:
- Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozações da meninada! Esquece logo eles.
Não esqueceram.
Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu nenhum resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Aí me dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no diário de classe e soube que se chamava Lúcio - Lúcio Rodrigues Barbosa. Achei o endereço. Longe, um dos últimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde. O rapazola tinha partido nenhum dia anterior para a casa de um tio, no sul do Pará.
- É meu, professora, fio não aguentou as gozação da meninada. Eu tentei fazê ele continua, mas não teve jeito. Ele tava chateado demais. Bosta de vida! Eu devia di té ficado na fazenda côa FAMIA. Na cidade nóis não tem veis. Nóis fala tudo errado.
Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer, Engoli em seco e me despedi.
O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em total esquecimento, ao menos de minha parte.
Uma tarde, num povoado à beira da Belém-Brasília, eu ia pegar o ônibus, quando alguém me chamou. Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente vestido, magro, com aparência Doentia.
- O que é, moço?
- A senhora não se lembra de mim, fessora?
Olhei para ele, dei tratos à bola. Reconstituí num momento meus longos anos de Sacerdócio digo, de magistério. Tudo escuro.
- Eu sou "Nóis mudemo", lembra?
Comecei a tremer.
- Moço, sim. Agora lembro. Como era mesmo seu nome?
- Lúcio - Lúcio Rodrigues Barbosa.
- O que aconteceu com você?
- O que aconteceu? Ah! fessora! É mais fácil dizê o que não aconteceu. Comi o pão que o diabo amasso. E êta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro, fui bóia-fria, um "gato" arrecadou me e levou num caminhão pruma fazenda nenhum meio da mata. Lá trabaiei como escravo, passei fome, fui baleado quando consegui fugi. Peguei tudo quanto é doença. Até na cadeia já fui pará. Nóis ignorante às veis fais coisa sem faze Querê. A escola fais uma farta danada. Eu não devia de té saído daquele jeito fessora, mas não aguentei as gozação da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui fala direito. Ainda hoje não sei.
- Meu Deus!
Aquela revelação me virou pelo avesso. Foi demais para mim. Descontrolada, comecei a soluçar convulsivamente. Como eu podia ter Sido tão burra e má? E abracei o rapaz, o que Restava do rapaz, que me olhava atarantado.
O ônibus buzinou com insistencia. O rapaz afastou-me suavemente de mim.
- Chora não, fessora! A senhora não tem curpa.
- Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu!
Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram cem flechas Vingadoras apontadas para mim. O ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma assassina a caminho da guilhotina.
O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo a Porto Nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luazona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, todo poesia e misticismo.
Mas minha alma estava profundamente amargurada. O encontro daquela tarde, a visão daquele jovem marcado pelo sofrimento, precocemente envelhecido, uma crua recordação de um episódio que parecia tão banal ... Tentei dormir. Inútil. Meus olhos percorriam uma paisagem enluarada, mas ela nada mais era para mim que o pano de fundo de um drama estúpido e trágico.
Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós mudamos, mudamos, mudaamoos, mudaaamooos ... Superusada, mal usada, abusada, ela é uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna - a língua que a criança aprendeu com seus pais, colegas e irmãos - e se torna o dos alunos do terror. Em vez de estimular e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando Centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.
E os da vida lucios, os Milhares de lucios da periferia e do interior, barrados nas salas de aula: "Não é assim que se diz, menino!" Como se o professor Quisesse dizer: "Você está errado! Os seus pais estão errados! Amigos e seus irmãos e vizinhos estão errados! A certa sou eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu! Você não seja você! Renegue suas raízes! Diminua-se! Desfigure-se! Fique No Seu Lugar! Seja uma sombra! E siga desarmado pelo Matadouro da vida ... "
Créditos:Fidêncio Baga.
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Reflexão
De Coração para Coração.
:O que separa corações não é a distância, é a indiferença. Há pessoas juntas estando separadas por milhares de quilômetros e outras separadas vivendo lado a lado. Muitas vezes nos importamos com o que acontece no mundo, nos sensibilizamos e pensamos até em fazer alguma coisa, mas nos esquecemos do que se passa ao nosso lado, na nossa casa, na nossa família e mesmo na vizinhança.
Colocamos, sem querer, barreiras entre os corações que nos cercam. A indiferença mata lentamente, anula qualquer sentimento; e assim criamos distâncias quando estamos tão próximos.
As pessoas se habituam tanto àquelas que convivem com elas que elas passam a não notá-las mais, a não dar mais importância.
Mas, se quisermos transformar o mundo, comecemos por transformar a nós mesmos.
Se quisermos entrar em combates para melhorar algo para o futuro, que esse combate comece dentro da nossa própria casa.
Precisamos olhar os que estão ao nosso lado sempre com olhos novos. Comunicar mais, destruir mais barreiras e construir mais pontes. Precisamos nos dar de coração a coração.
A melhor maneira de acabar com a indiferença de uma pessoa em relação a nós é amá-la. O amor transforma tudo. Não permita que pessoas ao seu lado morram de solidão! Não permita que elas sintam-se melhores fora de casa que dentro dela! Dê atenção, dê do seu próprio tempo! Comunique mais. Riam juntos.
Há quanto tempo você não diz para a pessoa que vive ao seu lado que gosta dela? A gente não recupera tempo perdido. Mas podemos decidir não perder mais.
Vamos amar os corações que nos cercam e tentar alcançar novamente aqueles que se distanciaram. Há sempre tempo para se amar. E se não houvesse, o próprio amor seria capaz de inventar.
Créditos:(Letícia Thompson)
Colocamos, sem querer, barreiras entre os corações que nos cercam. A indiferença mata lentamente, anula qualquer sentimento; e assim criamos distâncias quando estamos tão próximos.
As pessoas se habituam tanto àquelas que convivem com elas que elas passam a não notá-las mais, a não dar mais importância.
Mas, se quisermos transformar o mundo, comecemos por transformar a nós mesmos.
Se quisermos entrar em combates para melhorar algo para o futuro, que esse combate comece dentro da nossa própria casa.
Precisamos olhar os que estão ao nosso lado sempre com olhos novos. Comunicar mais, destruir mais barreiras e construir mais pontes. Precisamos nos dar de coração a coração.
A melhor maneira de acabar com a indiferença de uma pessoa em relação a nós é amá-la. O amor transforma tudo. Não permita que pessoas ao seu lado morram de solidão! Não permita que elas sintam-se melhores fora de casa que dentro dela! Dê atenção, dê do seu próprio tempo! Comunique mais. Riam juntos.
Há quanto tempo você não diz para a pessoa que vive ao seu lado que gosta dela? A gente não recupera tempo perdido. Mas podemos decidir não perder mais.
Vamos amar os corações que nos cercam e tentar alcançar novamente aqueles que se distanciaram. Há sempre tempo para se amar. E se não houvesse, o próprio amor seria capaz de inventar.
Créditos:(Letícia Thompson)
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Reflexão
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Negro, Negritude
Negro, negritude
na vida, no sangue, no povo
nos lábios do poeta, no artesanato
nos focos da luz em sonhos
na história da gente viva
na marca dos que se foram
nos olhos dos que o são
Negro, negritude
na consciência dos que têm
nos porões da imanência
na memória de Zumbi
nos corpos negros da dança
na culinária saborosa
nas marcas da inteligência
Negro, negritude
na beleza da mulher negra
nas cores incalculáveis
nos rostos tão incansáveis
nos labirintos do preconceito
nas lembranças de dor e vitória
na vida de nossa gente brasileira.
Créditos:Rogério Medrado
na vida, no sangue, no povo
nos lábios do poeta, no artesanato
nos focos da luz em sonhos
na história da gente viva
na marca dos que se foram
nos olhos dos que o são
Negro, negritude
na consciência dos que têm
nos porões da imanência
na memória de Zumbi
nos corpos negros da dança
na culinária saborosa
nas marcas da inteligência
Negro, negritude
na beleza da mulher negra
nas cores incalculáveis
nos rostos tão incansáveis
nos labirintos do preconceito
nas lembranças de dor e vitória
na vida de nossa gente brasileira.
Créditos:Rogério Medrado
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Poesias.
sábado, 22 de setembro de 2012
Porta- treco com garrafa pet e EVA.
Olha pessoal, que ideia legal para o dia das crianças. No blog elas disponibilizam o molde gratuito para download.
Fonte:http://evacolorido.com.br
Fonte:http://evacolorido.com.br
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Vídeos.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Dicionário da vida.
Amigo: É alguém que fica para ajudar quando todo mundo se afasta.
Adeus: É quando o coração que parte deixa a metade com quem fica.
Amor ao próximo: É quando o estranho passa a ser o amigo que ainda não abraçamos.
Caridade: É quando a gente está com fome, só tem uma bolacha e reparte.
Carinho: É quando a gente não encontra nenhuma palavra para expressar o que sente e fala com as mãos, colocando o afago em cada dedo.
Ciúme: É quando o coração fica apertado porque não confia em si mesmo.
Compreensão: É quando um velhinho caminha devagar na nossa frente e a gente, estando apressado, não reclama.
Cordialidade: É quando amamos muito uma pessoa e tratamos todo mundo da maneira que a tratamos.
Evolução: É quando a gente está lá na frente e sente vontade de buscar quem ficou para trás.
Filhos: É quando Deus entrega uma jóia em nossas mãos e recomenda cuidá-la.
Fé: É quando a gente diz que vai escalar o Everest e o coração já o considera feito.
Inimizade: É quando a gente empurra a linha do afeto para bem distante.
Lealdade: É quando a gente prefere morrer que trair a quem ama.
Lágrima: É quando o coração pede aos olhos que falem por ele.
Mágoa: É um espinho que a gente coloca no coração e se esquece de retirar.
Maldade: É quando arrancamos as asas do anjo que deveríamos ser.
Morte: Quer dizer viagem, transferência ou qualquer coisa com cheiro de eternidade.
Perfume: É quando mesmo de olhos fechados a gente reconhece quem nos faz feliz.
Netos: É quando Deus tem pena dos avós e manda anjos para alegrá-los.
Orgulho: É quando a gente é uma formiga e quer convencer os outros de que é um elefante.
Ódio: É quando plantamos trigo o ano todo e estando os pendões maduros a gente queima tudo em um dia.
Perdão: É uma alegria que a gente se dá e que pensava que jamais a teria.
Paz: É o prêmio de quem cumpre honestamente um dever.
Pessimismo: É quando a gente perde a capacidade de ver em cores.
Raiva: É quando colocamos uma muralha no caminho da paz.
Preguiça: É quando entra vírus na coragem e ela adoece.
Simplicidade: É o comportamento de quem começa a ser sábio.
Saudade: É estando longe, sentir vontade de voar; e estando perto, querer parar o tempo.
Supérfluo: É quando a nossa sede precisa de um gole de água e a gente quer um rio inteiro.
Solidão: É quando estamos cercados por pessoas, mas o coração não vê ninguém por perto.
Ternura: É quando alguém nos olha e os olhos brilham como duas estrelas.
Sinceridade: É quando nos expressamos como se o outro estivesse do outro lado do espelho.
Vaidade: É quando a gente abdica da nossa essência por outra; geralmente pior.
Créditos: "O Homem que Veio da Sombra" (Luiz Gonzaga Pinheiro)
Adeus: É quando o coração que parte deixa a metade com quem fica.
Amor ao próximo: É quando o estranho passa a ser o amigo que ainda não abraçamos.
Caridade: É quando a gente está com fome, só tem uma bolacha e reparte.
Carinho: É quando a gente não encontra nenhuma palavra para expressar o que sente e fala com as mãos, colocando o afago em cada dedo.
Ciúme: É quando o coração fica apertado porque não confia em si mesmo.
Compreensão: É quando um velhinho caminha devagar na nossa frente e a gente, estando apressado, não reclama.
Cordialidade: É quando amamos muito uma pessoa e tratamos todo mundo da maneira que a tratamos.
Evolução: É quando a gente está lá na frente e sente vontade de buscar quem ficou para trás.
Filhos: É quando Deus entrega uma jóia em nossas mãos e recomenda cuidá-la.
Fé: É quando a gente diz que vai escalar o Everest e o coração já o considera feito.
Inimizade: É quando a gente empurra a linha do afeto para bem distante.
Lealdade: É quando a gente prefere morrer que trair a quem ama.
Lágrima: É quando o coração pede aos olhos que falem por ele.
Mágoa: É um espinho que a gente coloca no coração e se esquece de retirar.
Maldade: É quando arrancamos as asas do anjo que deveríamos ser.
Morte: Quer dizer viagem, transferência ou qualquer coisa com cheiro de eternidade.
Perfume: É quando mesmo de olhos fechados a gente reconhece quem nos faz feliz.
Netos: É quando Deus tem pena dos avós e manda anjos para alegrá-los.
Orgulho: É quando a gente é uma formiga e quer convencer os outros de que é um elefante.
Ódio: É quando plantamos trigo o ano todo e estando os pendões maduros a gente queima tudo em um dia.
Perdão: É uma alegria que a gente se dá e que pensava que jamais a teria.
Paz: É o prêmio de quem cumpre honestamente um dever.
Pessimismo: É quando a gente perde a capacidade de ver em cores.
Raiva: É quando colocamos uma muralha no caminho da paz.
Preguiça: É quando entra vírus na coragem e ela adoece.
Simplicidade: É o comportamento de quem começa a ser sábio.
Saudade: É estando longe, sentir vontade de voar; e estando perto, querer parar o tempo.
Supérfluo: É quando a nossa sede precisa de um gole de água e a gente quer um rio inteiro.
Solidão: É quando estamos cercados por pessoas, mas o coração não vê ninguém por perto.
Ternura: É quando alguém nos olha e os olhos brilham como duas estrelas.
Sinceridade: É quando nos expressamos como se o outro estivesse do outro lado do espelho.
Vaidade: É quando a gente abdica da nossa essência por outra; geralmente pior.
Créditos: "O Homem que Veio da Sombra" (Luiz Gonzaga Pinheiro)
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Reflexão
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Ariano Suassuna, indicado ao Prêmio Nobel de Literatura.
Ariano Suassuna completa 85 anos e dispara: ‘Quem não se interessa por livros perde a chance de sonhar.
Autor dos célebres Auto da Compadecida e A Pedra do Reino, Ariano Vilar Suassuna, completou 85 anos no sábado. Ele é um dos mais importantes dramaturgo, romancista e poeta brasileiros. Em visita à Feira do Livro de Ribeirão Preto (SP), o símbolo da cultura popular disse que não olha TV, mas sim “arenga” com a TV.
Ariano Suassuna afirmou ainda que a riqueza da Cultura Popular Brasileira não se compara a nenhuma outra, ressaltando que até as novelas podem se inserir nessa avaliação, embora com ressalvas.
O autor, que é o indicado desse ano a ser o representante brasileiro no Prêmio Nobel de Literatura, também falou de como são importantes as realizações de Feiras do Livro.
Fonte:http://marcelodubai.blogspot.com.br
Autor dos célebres Auto da Compadecida e A Pedra do Reino, Ariano Vilar Suassuna, completou 85 anos no sábado. Ele é um dos mais importantes dramaturgo, romancista e poeta brasileiros. Em visita à Feira do Livro de Ribeirão Preto (SP), o símbolo da cultura popular disse que não olha TV, mas sim “arenga” com a TV.
Ariano Suassuna afirmou ainda que a riqueza da Cultura Popular Brasileira não se compara a nenhuma outra, ressaltando que até as novelas podem se inserir nessa avaliação, embora com ressalvas.
O autor, que é o indicado desse ano a ser o representante brasileiro no Prêmio Nobel de Literatura, também falou de como são importantes as realizações de Feiras do Livro.
Fonte:http://marcelodubai.blogspot.com.br
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Texto Informativo.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
A criança que existe em você.
Existe uma criança linda dentro de você. Provavelmente já lhe disseram isso e você, por teimosia, descrença ou absoluta falta de imaginação desprezou a afirmação. Então tente ficar inerte diante da composição Aquarela, de Toquinho; ou leia O Menino Maluquinho de Ziraldo e tente não sentir saudades de sua infância...
A criança nunca deixou de existir. Nem por um momento sequer. É que muitas vezes o adulto que a encerra deixou de sonhar. Parou de acreditar na Terra do Nunca, deixou de pensar que pode voar como seus mais amados super-heróis, não quis mais saber da Emília e do Visconde, esqueceu da bola ou da boneca,...
Agora só quer saber de correr. Parece o coelho da Alice e a todo o momento olha seu relógio. Está encarcerado numa rotina estressante que o faz cativo sem que nem ao menos se dê conta. Não sabe por que corre. Acha que se não fizer isso será atropelado, passado para trás, superado por outros, que nem ao menos conhece...
E o pior de tudo é que esse adulto, como os piratas do Peter Pan, não quer nem mesmo que as crianças sejam crianças por mais tempo. Faz força para acelerar o relógio biológico de nossas crianças para que não sejam mais infantis. Para que brincar? O negócio é namorar. Por que desenhar e pintar? É melhor ir para o Shopping. Subir em árvore ou ir ao parquinho? Que tal ir fazer umas compras...
As crianças não podem mais subir em árvores. Nem, tampouco, devem assistir desenhos animados. Acreditar em coelhinho da páscoa ou em Papai Noel então, é terminantemente proibido. Se seu filho usa roupas que tenham desenhos como o Mickey, a Mônica ou o Pernalonga depois de certa idade... provavelmente ele será alvo de chacotas e ridicularizações por seus pares na escola, no clube, na rua,...
E por que as crianças não querem mais fazer desenhos com o contorno das mãos ou navegar num barco com suas grandes e bonitas velas brancas estendidas como nos diz Toquinho em sua clássica composição? Será que os sonhos da infância não estão sendo massacrados por nossa ausência e indiferença? Quando foi a última vez que você se sentou para brincar com seus filhos?
Ouvi de uma pessoa religiosa que a catequese de nossas crianças é feita desde o seu nascimento e que os principais catequizadores são os próprios pais... Seu filho é fruto de seu envolvimento com a vida dele... Sua saúde física, mental e emocional está em suas mãos. Reserve a criança que há dentro de você para brincar com ele. Isso é o que realmente ficará para sempre...
Créditos:João Luís de Almeida Machado.Doutor em Educação. PUC. SP
A criança nunca deixou de existir. Nem por um momento sequer. É que muitas vezes o adulto que a encerra deixou de sonhar. Parou de acreditar na Terra do Nunca, deixou de pensar que pode voar como seus mais amados super-heróis, não quis mais saber da Emília e do Visconde, esqueceu da bola ou da boneca,...
Agora só quer saber de correr. Parece o coelho da Alice e a todo o momento olha seu relógio. Está encarcerado numa rotina estressante que o faz cativo sem que nem ao menos se dê conta. Não sabe por que corre. Acha que se não fizer isso será atropelado, passado para trás, superado por outros, que nem ao menos conhece...
E o pior de tudo é que esse adulto, como os piratas do Peter Pan, não quer nem mesmo que as crianças sejam crianças por mais tempo. Faz força para acelerar o relógio biológico de nossas crianças para que não sejam mais infantis. Para que brincar? O negócio é namorar. Por que desenhar e pintar? É melhor ir para o Shopping. Subir em árvore ou ir ao parquinho? Que tal ir fazer umas compras...
As crianças não podem mais subir em árvores. Nem, tampouco, devem assistir desenhos animados. Acreditar em coelhinho da páscoa ou em Papai Noel então, é terminantemente proibido. Se seu filho usa roupas que tenham desenhos como o Mickey, a Mônica ou o Pernalonga depois de certa idade... provavelmente ele será alvo de chacotas e ridicularizações por seus pares na escola, no clube, na rua,...
E por que as crianças não querem mais fazer desenhos com o contorno das mãos ou navegar num barco com suas grandes e bonitas velas brancas estendidas como nos diz Toquinho em sua clássica composição? Será que os sonhos da infância não estão sendo massacrados por nossa ausência e indiferença? Quando foi a última vez que você se sentou para brincar com seus filhos?
Ouvi de uma pessoa religiosa que a catequese de nossas crianças é feita desde o seu nascimento e que os principais catequizadores são os próprios pais... Seu filho é fruto de seu envolvimento com a vida dele... Sua saúde física, mental e emocional está em suas mãos. Reserve a criança que há dentro de você para brincar com ele. Isso é o que realmente ficará para sempre...
Créditos:João Luís de Almeida Machado.Doutor em Educação. PUC. SP
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Reflexão
terça-feira, 3 de julho de 2012
Rainha de Copas.
Somente quem sentiu a dor de uma injustiça, sabe que diferença o homem pode fazer no mundo.
As cortinas foram abertas. No dia da audição, as crianças estavam todas prontas para interpretar Alice no país das Maravilhas. Todas as meninas queriam ser Alice e os meninos queriam ser o coelho branco, ou o rato, ou o Dodo. Todos queriam ser protagonistas. Não poderia ser diferente, são os protagonistas que conduzem a história; os livros são vendidos porque existe um protagonista; a vida na ficção é feita de mocinhos e mocinhas.
Com certeza, a professora não estranhara o fato de todas as crianças preferirem os papéis de destaque, tão certo, que sempre que uma vinha lhe mostrar suas aptidões no palco, durante a audição, ela já tinha em mãos uma cópia das falas de Alice. Alice era irrepreensível, era de um coração ingênuo, conquistava todos a sua volta. Quem não gostaria de ser Alice?
Júlio, um garoto de oito anos aproximadamente, decidiu participar também da audição. Mais uma vez, a professora já tinha em mãos o papel de um dos protagonistas. Quando ela lhe perguntou se ele queria o papel do coelho, ou do rato, ou mesmo de Dodo, ele lhe respondeu:
– Eu quero ser a Rainha de Copas!
A professora não o questionou, entregou-lhe as falas da personagem, e avaliou a sua interpretação. Passados alguns dias, saíram os resultados para as crianças que se inscreveram na audição. O alvoroço era imenso, afinal, quem ficou com o papel de Alice e dos demais personagens de destaque? Como não havia possibilidade de nenhuma criança ficar fora do espetáculo; aqueles que não obtiveram os papéis principais receberiam as falas de outros personagens da história com atuações menores, mas extremamente fundamentais para a composição dos cenários.
Um a um, a professora foi entregando o personagem. Alice acabou ficando com uma menina autista que estudava na escola. Com certeza, as outras meninas acharam uma tremenda injustiça. A menina mal conseguia se relacionar como poderia ser a tão bela e doce protagonista? Interpretando ela era fantástica...
O pior ainda aconteceria, a professora cedeu o papel da Rainha de Copas a Júlio. O menino ficou emocionado e a professora o elogiou a exaustão, porque de todas as vezes que sugeriu a interpretação da história, nunca teve alguém que interpretasse a Rainha como Júlio. Quando foi anunciado o seu resultado, as demais crianças quase desfaleceram de tanto rirem. Um menino fazendo papel de menina, ele deveria ter se candidatado a Alice – diziam eles.
O estopim aconteceu quando no ensaio, escreveram na capa da Rainha: “viado”, assim mesmo, com erro de grafia. A professora interrompeu o ensaio e chamou as crianças ao centro do palco.
– Eu quero saber quem foi que escreveu essa palavra na capa da Rainha de Copas? –
perguntou a professora.
Nenhuma criança se acusou. Então, a professora continuou, fazendo-lhes outra pergunta:
– Já que ninguém tem coragem de se assumir, não com a mesma coragem que teve para escrever essa palavra no figurino do meu espetáculo, quero saber se alguém pode me dizer o significado dessa palavra? – apontando para a capa.
Mais uma vez nenhuma criança disse nada, sequer esboçaram algum riso.
– Foi o que pensei. Por favor, alguém pegue o dicionário para mim. – uma das crianças se levantou e atendeu ao pedido da professora. Ela abriu o dicionário e o leu para os alunos:
– Bom, vejamos... “Viado” não existe, existe veado. Veado é um tecido de lã com riscas ou veios. Também é a designação comum a mamíferos ruminantes da família dos cervídeos, de coloração geralmente baia ou amarronzada, cornos ramificados ou simples, presentes apenas nos machos de pata com quatro dedos, pernas longas e cauda curta. Mesmo que suaçu. Então, a educadora perguntou:
– Por acaso, é isso que a Rainha de Copas representa? Por acaso, é isso que o amiguinho de vocês significa?
Eu quero contar uma história a vocês. No passado, num tempo muito distante, as mulheres não podiam participar do teatro. Elas eram totalmente impedidas pela sociedade, pelos maridos, e pela família. As mulheres não podiam trabalhar, muito menos, trabalhar com arte, e na possibilidade de se colocar numa cena mais envolvente com outro homem. Não existia atriz, sempre existiu ator. Então, no passado, o ator precisava fazer todos os papéis. Ele deveria ser a mãe, a avó, a criança, o soldado, a princesa, a rainha, a amante, o esposo, o animalzinho, o vendedor e qualquer outro papel que lhe fosse entregue. Ser bom ator significava poder interpretar com maestria quaisquer personagens, não importava se homem, mulher ou animal. Quem já ouviu falar em Romeu e Julieta? – quase a totalidade das crianças levantou as mãos. Eu quero dizer que na época de Shakespeare, as palavras de amor trocadas pelos namorados, foram originalmente faladas por dois homens no palco. Eu quero dizer que no teatro não existe papel errado, pequeno, ou inferior, ou menos importante. O que existe são atores pequenos e de pensamentos inferiores ou menos importantes.
As crianças não mais debocharam do menino. Os ensaios continuaram e o espetáculo foi apresentado, e na divisão do palco, houve uma disputa pela atenção do público entre Alice, a protagonista, e a Rainha. A interpretação de ambos foi maravilhosa. A interpretação de Júlio foi tão intensa, que não teve quem não dissesse se tratar de uma rainha, Rainha de Copas. A menina autista foi extremamente aplaudida, e quando as crianças saudaram o público ao final do espetáculo, Júlio retirou a coroa e a peruca, e o público tomou um susto, pois viram se tratar de um menino.
O público ficou emudecido e no ensejo, a professora chamou ambos ao centro do palco. A menina autista e sem autoestima por não se relacionar com os amigos, e o menino que no palco quis o papel, originalmente, feito para ser interpretado por uma menina. A professora mostrou ao público a importância do teatro na vida das crianças, e das possibilidades que o espetáculo lhes trazia. Por exemplo, vencer os preconceitos encontrados no dia a dia.
Mais do que isso, quando a professora cedeu a palavra a Júlio, ela perguntou o que o fez desejar o papel da rainha? Ele sem a maturidade necessária para entender o teor da sua atitude, nem de suas palavras, contou a todos o que ele sentia:
– Sabe o que é eu nunca gostei muito de ler estórias que só tivesse no centro uma mocinha ou um mocinho, eu sempre gostei do vilão. O vilão é o mais legal, porque ele é sempre o culpado, ele sempre faz tudo errado. Se não tivesse o vilão, não teria o mocinho, ou então, o mocinho só é o mocinho, porque tem o vilão. Eu quis ser a rainha, porque ela manda cortar a cabeça, ela burla as regras, e todos precisam obedecê-la. Ela nunca é a culpada, ela é sempre a rainha. Na escola, as outras crianças riem de mim, me xingam, e dizem que eu sou menina; mas no palco, quando eu sou a rainha, elas são obrigadas a me obedecerem, e elas não mais me xingam, porque senão eu mando cortar a cabeça delas. Na escola, eu sempre sou maltratado, sou sempre o culpado, mas no teatro, eu estou no centro, sou sempre eu mesmo, aquele que importa para haver a mocinha, eu sou a rainha.
De repente, alguém começou a aplaudi-lo, outro bater de palmas se ouviu, e contagiou a todos os presentes naquele espetáculo; rapidamente, um coro de palmas se ouviu e, desta vez, não era a Rainha, mas Júlio era verdadeiramente aplaudido.
Novamente no ensejo, a professora aproveitou o período após as palmas, para trazer
uma reflexão a todos:
– É verdade que muito se fala em educação, em medidas socioeducativas, mas pouco se pensa na questão do ser humano. Todos falam que educação é importante, mas poucos entendem o teor daquilo que dizem. A educação é importante porque antes de tudo ajuda a enxergar o ser humano e ampliar as possibilidades dele com responsabilidade. Educação também é responsabilidade dos pais, aliás, é responsabilidade de todos. Eu trabalho com crianças e sei que nenhuma delas nasceu com disposição ao ódio, com horror as diferenças, e medo daquilo que não lhes é igual. Quando vejo crianças sendo maltratadas na escola como o menino Júlio, eu sei que outras o maltratam, porque aprenderam de alguém, e não foi no meu palco, nem no meu quadro negro, muito menos, a partir do meu giz. Mas elas aprenderam e absorveram a ideia de ódio de alguém. Uma criança de oito anos de idade ou mais, não tem maldade, muito menos sabe escolher se gosta de menino ou menina; o que uma criança de oito anos ou mais gosta mesmo é de ser criança, só isso. Peço encarecidamente, que quando vocês falarem em seu âmbito familiar o quanto não gostam das diferenças, ou aquilo que consideram certo ou errado em relação às pessoas, peço que olhem o ser humano, e saibam que uma criança está a ouvir o que vocês dizem.
E as cortinas do palco se fecharam, e a Rainha de Copas voltou ao seu trono, imaculada.
Créditos: Emannuel Baldavir.
As cortinas foram abertas. No dia da audição, as crianças estavam todas prontas para interpretar Alice no país das Maravilhas. Todas as meninas queriam ser Alice e os meninos queriam ser o coelho branco, ou o rato, ou o Dodo. Todos queriam ser protagonistas. Não poderia ser diferente, são os protagonistas que conduzem a história; os livros são vendidos porque existe um protagonista; a vida na ficção é feita de mocinhos e mocinhas.
Com certeza, a professora não estranhara o fato de todas as crianças preferirem os papéis de destaque, tão certo, que sempre que uma vinha lhe mostrar suas aptidões no palco, durante a audição, ela já tinha em mãos uma cópia das falas de Alice. Alice era irrepreensível, era de um coração ingênuo, conquistava todos a sua volta. Quem não gostaria de ser Alice?
Júlio, um garoto de oito anos aproximadamente, decidiu participar também da audição. Mais uma vez, a professora já tinha em mãos o papel de um dos protagonistas. Quando ela lhe perguntou se ele queria o papel do coelho, ou do rato, ou mesmo de Dodo, ele lhe respondeu:
– Eu quero ser a Rainha de Copas!
A professora não o questionou, entregou-lhe as falas da personagem, e avaliou a sua interpretação. Passados alguns dias, saíram os resultados para as crianças que se inscreveram na audição. O alvoroço era imenso, afinal, quem ficou com o papel de Alice e dos demais personagens de destaque? Como não havia possibilidade de nenhuma criança ficar fora do espetáculo; aqueles que não obtiveram os papéis principais receberiam as falas de outros personagens da história com atuações menores, mas extremamente fundamentais para a composição dos cenários.
Um a um, a professora foi entregando o personagem. Alice acabou ficando com uma menina autista que estudava na escola. Com certeza, as outras meninas acharam uma tremenda injustiça. A menina mal conseguia se relacionar como poderia ser a tão bela e doce protagonista? Interpretando ela era fantástica...
O pior ainda aconteceria, a professora cedeu o papel da Rainha de Copas a Júlio. O menino ficou emocionado e a professora o elogiou a exaustão, porque de todas as vezes que sugeriu a interpretação da história, nunca teve alguém que interpretasse a Rainha como Júlio. Quando foi anunciado o seu resultado, as demais crianças quase desfaleceram de tanto rirem. Um menino fazendo papel de menina, ele deveria ter se candidatado a Alice – diziam eles.
O estopim aconteceu quando no ensaio, escreveram na capa da Rainha: “viado”, assim mesmo, com erro de grafia. A professora interrompeu o ensaio e chamou as crianças ao centro do palco.
– Eu quero saber quem foi que escreveu essa palavra na capa da Rainha de Copas? –
perguntou a professora.
Nenhuma criança se acusou. Então, a professora continuou, fazendo-lhes outra pergunta:
– Já que ninguém tem coragem de se assumir, não com a mesma coragem que teve para escrever essa palavra no figurino do meu espetáculo, quero saber se alguém pode me dizer o significado dessa palavra? – apontando para a capa.
Mais uma vez nenhuma criança disse nada, sequer esboçaram algum riso.
– Foi o que pensei. Por favor, alguém pegue o dicionário para mim. – uma das crianças se levantou e atendeu ao pedido da professora. Ela abriu o dicionário e o leu para os alunos:
– Bom, vejamos... “Viado” não existe, existe veado. Veado é um tecido de lã com riscas ou veios. Também é a designação comum a mamíferos ruminantes da família dos cervídeos, de coloração geralmente baia ou amarronzada, cornos ramificados ou simples, presentes apenas nos machos de pata com quatro dedos, pernas longas e cauda curta. Mesmo que suaçu. Então, a educadora perguntou:
– Por acaso, é isso que a Rainha de Copas representa? Por acaso, é isso que o amiguinho de vocês significa?
Eu quero contar uma história a vocês. No passado, num tempo muito distante, as mulheres não podiam participar do teatro. Elas eram totalmente impedidas pela sociedade, pelos maridos, e pela família. As mulheres não podiam trabalhar, muito menos, trabalhar com arte, e na possibilidade de se colocar numa cena mais envolvente com outro homem. Não existia atriz, sempre existiu ator. Então, no passado, o ator precisava fazer todos os papéis. Ele deveria ser a mãe, a avó, a criança, o soldado, a princesa, a rainha, a amante, o esposo, o animalzinho, o vendedor e qualquer outro papel que lhe fosse entregue. Ser bom ator significava poder interpretar com maestria quaisquer personagens, não importava se homem, mulher ou animal. Quem já ouviu falar em Romeu e Julieta? – quase a totalidade das crianças levantou as mãos. Eu quero dizer que na época de Shakespeare, as palavras de amor trocadas pelos namorados, foram originalmente faladas por dois homens no palco. Eu quero dizer que no teatro não existe papel errado, pequeno, ou inferior, ou menos importante. O que existe são atores pequenos e de pensamentos inferiores ou menos importantes.
As crianças não mais debocharam do menino. Os ensaios continuaram e o espetáculo foi apresentado, e na divisão do palco, houve uma disputa pela atenção do público entre Alice, a protagonista, e a Rainha. A interpretação de ambos foi maravilhosa. A interpretação de Júlio foi tão intensa, que não teve quem não dissesse se tratar de uma rainha, Rainha de Copas. A menina autista foi extremamente aplaudida, e quando as crianças saudaram o público ao final do espetáculo, Júlio retirou a coroa e a peruca, e o público tomou um susto, pois viram se tratar de um menino.
O público ficou emudecido e no ensejo, a professora chamou ambos ao centro do palco. A menina autista e sem autoestima por não se relacionar com os amigos, e o menino que no palco quis o papel, originalmente, feito para ser interpretado por uma menina. A professora mostrou ao público a importância do teatro na vida das crianças, e das possibilidades que o espetáculo lhes trazia. Por exemplo, vencer os preconceitos encontrados no dia a dia.
Mais do que isso, quando a professora cedeu a palavra a Júlio, ela perguntou o que o fez desejar o papel da rainha? Ele sem a maturidade necessária para entender o teor da sua atitude, nem de suas palavras, contou a todos o que ele sentia:
– Sabe o que é eu nunca gostei muito de ler estórias que só tivesse no centro uma mocinha ou um mocinho, eu sempre gostei do vilão. O vilão é o mais legal, porque ele é sempre o culpado, ele sempre faz tudo errado. Se não tivesse o vilão, não teria o mocinho, ou então, o mocinho só é o mocinho, porque tem o vilão. Eu quis ser a rainha, porque ela manda cortar a cabeça, ela burla as regras, e todos precisam obedecê-la. Ela nunca é a culpada, ela é sempre a rainha. Na escola, as outras crianças riem de mim, me xingam, e dizem que eu sou menina; mas no palco, quando eu sou a rainha, elas são obrigadas a me obedecerem, e elas não mais me xingam, porque senão eu mando cortar a cabeça delas. Na escola, eu sempre sou maltratado, sou sempre o culpado, mas no teatro, eu estou no centro, sou sempre eu mesmo, aquele que importa para haver a mocinha, eu sou a rainha.
De repente, alguém começou a aplaudi-lo, outro bater de palmas se ouviu, e contagiou a todos os presentes naquele espetáculo; rapidamente, um coro de palmas se ouviu e, desta vez, não era a Rainha, mas Júlio era verdadeiramente aplaudido.
Novamente no ensejo, a professora aproveitou o período após as palmas, para trazer
uma reflexão a todos:
– É verdade que muito se fala em educação, em medidas socioeducativas, mas pouco se pensa na questão do ser humano. Todos falam que educação é importante, mas poucos entendem o teor daquilo que dizem. A educação é importante porque antes de tudo ajuda a enxergar o ser humano e ampliar as possibilidades dele com responsabilidade. Educação também é responsabilidade dos pais, aliás, é responsabilidade de todos. Eu trabalho com crianças e sei que nenhuma delas nasceu com disposição ao ódio, com horror as diferenças, e medo daquilo que não lhes é igual. Quando vejo crianças sendo maltratadas na escola como o menino Júlio, eu sei que outras o maltratam, porque aprenderam de alguém, e não foi no meu palco, nem no meu quadro negro, muito menos, a partir do meu giz. Mas elas aprenderam e absorveram a ideia de ódio de alguém. Uma criança de oito anos de idade ou mais, não tem maldade, muito menos sabe escolher se gosta de menino ou menina; o que uma criança de oito anos ou mais gosta mesmo é de ser criança, só isso. Peço encarecidamente, que quando vocês falarem em seu âmbito familiar o quanto não gostam das diferenças, ou aquilo que consideram certo ou errado em relação às pessoas, peço que olhem o ser humano, e saibam que uma criança está a ouvir o que vocês dizem.
E as cortinas do palco se fecharam, e a Rainha de Copas voltou ao seu trono, imaculada.
Créditos: Emannuel Baldavir.
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segunda-feira, 2 de julho de 2012
O tempo não perdoa.
Vovó Hermínia-88anos.
O tempo passa com uma rapidez absurda e deixa todos os tipos de marcas em nós. Uma linha de expressão ao redor dos olhos pode parecer 'o fim' em um primeiro momento, mas sei que nela estão contidas histórias que um livro todo não poderia contar. O tempo muda nosso corpo, nosso rosto, nosso jeito de ver a vida. E no final das contas de que importa um quilinho a mais ou uma ruguinha nova se minha alma está mais em forma do que nunca!"
(Fernanda Gaona)
O tempo passa com uma rapidez absurda e deixa todos os tipos de marcas em nós. Uma linha de expressão ao redor dos olhos pode parecer 'o fim' em um primeiro momento, mas sei que nela estão contidas histórias que um livro todo não poderia contar. O tempo muda nosso corpo, nosso rosto, nosso jeito de ver a vida. E no final das contas de que importa um quilinho a mais ou uma ruguinha nova se minha alma está mais em forma do que nunca!"
(Fernanda Gaona)
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