Ninguém sabe o que se passa nas escolas. Ninguém, além de dois grupos: professores e alunos.
O jeito brasileiro de lidar com problemas é fenomenal. Criou-se, de alguma forma, o dogma de que uma turma na qual 80% dos alunos sejam reprovados é uma heresia. E aí, resolvemos mentir. Para lidarmos com índices de reprovação vergonhosos, o que fizemos? Demos o jeito brasileiro. Mudamos o índice. E, ao invés de os alunos terem de alcançar os objetivos de sua série, os objetivos da série começaram a rebolar bastante para dar uma calibrada no índice de reprovação.
Afinal, dá muito trabalho parar, pensar, ir às escolas, bater de frente com o corporativismo, resolver a causa do problema.
Duas evidências, entre tantas, podem servir de exemplo dessa mentira descarada:
1- Meus alunos. Na sétima série, tenho que me defender deles quando digo que eles não devem decorar algo, mas entender. Quando tento explicar o raciocínio por trás de uma resposta, eles dizem que sou o único que faz isso, que os outros só escrevem a resposta no quadro, o que é bem melhor. Na sétima série, meus alunos não sabem ler um texto básico, com linguagem cotidiana, e relacionar com uma pergunta. Eles pegam trechos aleatórios do texto e transcrevem para a resposta. Na sétima série.
O que será que isso significa?
a- eles têm uma resistência absurda a entender algo, isso é inerente.
b- que os professores não têm tornado seu ensino lúdico.
c- que as escolas não têm computadores.
d- que nenhum professor, nos SEIS anos anteriores, trabalhou qualquer tipo de raciocínio lógico com os mesmos, seja por que motivo for. E olha que quando eu era da sétima série a decoreba de conteúdos já estava condenada.
2- O IDEB de 2005. A média da melhor escola do país deveria ser a média do país. Nossos alunos estão sendo passados para a frente, para não sermos hereges e ninguém torrar a nossa paciência com números absurdos, e estamos criando a grande mentira de que eles estão aprendendo qualquer coisa.
E que propostas temos para resolver isso?
Professores - a culpa é dos alunos, dos pais e, claro, do salário. Estão muito ocupados reclamando. Só querem saber do salário na conta e pouca dor de cabeça. Quem vier de fora, não sabe do que está falando, mesmo que esteja querendo ajudar. Quem chega, ainda não viu nada ou está com furor pedagógico. Você quer dar aula? Está doente?
Acadêmicos - estão muito ocupados brigando sobre o autoritarismo e a arbitrariedade de se aplicar uma avaliação com valores capitalistas sobre crianças, inventando métodos maravilhosos e mirabolantes de se ensinar qualquer coisa, talvez na Suíça, discutindo sobre a atitude autoritária do governo FHC/LULA, fazendo greve mais uma vez ou talvez dizendo que o ensino tem que ser lúdico, que cada aula deve ter zilhões de recursos, significativos, contextualizados, para que os alunos se interessem.
Políticos - querem números. talvez estejam tão distantes da realidade quanto os do mundo acadêmico da educação. É uma disputa acirrada. Antes, não sabiam o que eram professores, ou achavam que estes eram os incompetentes. Agora, acham que são tão angelicais quanto os alunos, só precisam de capacitação e recursos, para produzirem números.
Ah, sim! E computadores, muitos computadores!
Afinal, era isso que faltava.
FELIPE ROCHA
Um comentário:
Parabéns!!!!!!
Belissimo texto adorei...Tenho um programa na rádio e vou usá-lo...não se preocupe vou dizer o autor...
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